Silent Hill: Book of Memories: Revisionismo macabro

Anda esculachando Silent Hill...

Em Silent Hilll: Book of Memories...

 É possível travar embates filosóficos de horas para tentar definir o que faz de uma coisa aquela coisa, especificamente. “O que é um homem?”, perguntaria o Conde Drácula a um jogador levemente com pressa para começar a campanha principal de Symphony of the Night, ao qual ele mesmo responderia: “Uma pilha miserável de segredos”. Mas não importa qual a abordagem: Silent Hill: Book of Memories não é Silent Hill.


Você pode até dizer que o jogo tem as intenções certas, o espírito certo. A história, por exemplo, tem ao menos toques Silenthillianos: o seu protagonista recebe, no seu aniversário e das mãos de um carteiro suspeito, o Livro de Memórias mencionado no título. Ao abri-lo, descobre que todos os detalhes da sua vida estão escritos lá – e que, mais importante, é possível mudá-los ao seu prazer. Pegar aquele emprego que o amigo “roubou”, namorar aquela menina que preferiu outro cara. O herói da vez que ajeitar sua vida.

Viaje na leitura

Mas não sem um preço. Ao alterar a história para favorecer a si mesmo, você brinca com a realidade e muda também as vidas de todas as outras pessoas ao seu redor. Esse suspense é o que dá o tom do jogo, junto, claro, com as fases escuras e sujas de sangue devidamente povoadas de enfermeiras deformadas e monstruosidades voadoras.
Então vejamos: temos o nome na caixa, os demônios, a história macabrinha (inha) e até alguns quebra-cabeças. Mas Book of Memories continua não sendo Silent Hill, para todos os efeitos, apesar de vários elementos que, em outras condições de temperatura e pressão, o legitimariam como tal. Mas a soma das partes dá em um todo muito menor do que deveria ser.
Book of Memories é um Diablo/Gauntlet/Roguelike da sua preferência com uma skin de Silent Hill, e não mais que isso. Todos os elementos estão lá, ou quase. Mas não é a mesma coisa. Também, se fosse assim fácil, daria até para fazer um Silent Hill Soccer que tava tudo bem É uma questão e jogabilidade.
Silent Hill não é só o conjunto de elementos que transformam o jogo em um Survival Horror – é também a forma com o qual tudo isso é amarrado.

Algo a mais

Jogar um Silent Hill nunca é uma experiência simples. Cada susto, cada batalha, cada cenário é interligado por uma massa envolvente cujo único propósito é te deixar 24 horas por dia com a pulga atrás da orelha, com medo da própria sombra, se borrando a cada barulhinho que surge no meio da noite enquanto você reza pra pegar rápido no sono.
Já Book of Memories, como um simples jogo do gênero dungeon-crawler até que se sai bem e, mesmo na falta de Horror, o Silent Hill de Vita tem bastante de Survival.
As primeiras fases são simples, mas as viagens mais longas que o jogo oferece mais para frente te lembram frequentemente que as armas têm durabilidade limitada, a munição não é para sempre e a sua bolsa de itens tem sempre menos espaço do que você precisa. É bem difícil sobreviver no jogo, ainda que alguns dos outros motivos para isso sejam errados: a esquiva é pouco mais que um pulinho desengonçado e é comum você pisar em uma armadilha quase-mortal sem chance alguma de escapar.
Existe um senso de exploração interessante – que se esvai depois de algumas “Zonas”, quando você já entendeu que tipo de coisa vai precisar encontrar (e acabar encontrando) em toda fase. Assim como os quebra-cabeças, obrigatórios ao fim de cada uma das fases. A fórmula é sempre: Número de objetos / indo em alguma direção / em uma ordem de cores e/ou tamanhos. Por exemplo: “Seis Vasos, Do Violeta para as Chamas, Seguem o Sol Ponente”. Por mais de 20 fases. Tragam meu piano sangrento de volta.
Book of Memories também roça em um sistema de moralidade que serve para mudar o final, mas de uma forma um pouco arbitrária. Ele leva em consideração, por exemplo, o tipo de arma que você usa (o facão, uma arma do tipo “Sangue”, é ruim), se você usa poderes do bem ou do mal, e as suas decisões nas Forsaken Rooms, o único pedaço da série clássica que entrou nesta versão. Em uma delas, por exemplo, você vê uma menina sendo cercada por várias enfermeiras. Se você bater nas enfermeiras, seu karma vai para o bem. Se bater na menina, vai para o mal. Essa condição é interessante, cabe perfeitamente no universo da série e poderia ter sido explorada mais a fundo.
Existe uma chance de diversão, principalmente se você se envolver em uma partida cooperativa com amigos. Mas este é muito mais um jogo de ação inofensivo do que uma aventura introspectiva e satânica, como seria de bom tom. Talvez se a ação fosse melhor. Talvez se o terror fosse melhor incorporado. Talvez tivéssemos um jogo realmente interessante.
Simplicidade e repetição – ainda que não sejam pecados capitais – não combinam com o que se passa dentro dos limites da reflexiva cidade feita de névoa e maldição. Um Silent Hill não é um jogo qualquer, muito menos um jogo de ação qualquer. E é por isso que Book of Memories não é Silent Hill.
-------------->Yo-chan


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