Japoneses inventam várias formas de comemorar a data, rebatizam Papai Noele renovam o cardápio. E preservam a essência da data à sua maneira.
Cidades recebem decoração e crianças ganham presentes, mas dia 25 não é feriado no país
Pode não ser verdade, mas conta-se que um turista estrangeiro ficou chocado ao entrar em uma loja de Quioto, às vésperas de um Natal dos anos 1950 ou 1960, e se deparar com o Papai Noel pregado à cruz que os cristãos usam como símbolo de sua igreja. Não era nenhuma afronta religiosa ou coisa do tipo, mas o fato é que, para a esmagadora maioria dos japoneses daquela época, a data não fazia o menor sentido e uma pequena falha de comunicação podia ter levado a mal entendidos do tipo. Hoje, em um mundo globalizado, com internet, estrangeiros fluentes em japonês e nipônicos poliglotas, confusões dessas não acontecem mais. Pode até ser, mas é difícil fazer os japoneses entenderem o real significado do Natal. Após crucificarem o bom velhinho, os nipônicos vivem dando significados diferentes ao nascimento de Jesus Cristo.
Nos anos 1980, por exemplo, começou a moda de se comemorar o dia 24 de dezembro a dois, de preferência em um lugar bem romântico e com hora marcada, pois todos trabalham no dia 25. Não se sabe como a véspera da data mais sagrada do Ocidente acabou virando uma espécie de Dia dos Namorados para os japoneses no arquipélago, até porque os casais têm ocasião específica para comemorar: 14 de fevereiro, o Valentine’s Day. Mas o fato é que hotéis e restaurantes costumam ficar com suas reservas esgotadas com várias semanas de antecedência no dia 24 de dezembro. Para não perder o toque natalino, os casais trocam presentes entre si.
No entanto, para não ficar tão genérico assim, alguns japoneses decidiram rebatizar o Papai Noel. Em vez de reverenciar a tradicional figura de São Nicolau (Santa Claus), o inspirador do bom velhinho no Ocidente, prestaram uma homenagem a Jizo, a mais querida divindade do budismo no Japão e que é tido como o guardião das almas das crianças que morrem antes de seus pais. A moda não pegou como se esperava, mas, ao menos, a popularidade do monge budista continua intacta.
Manjedoura
O dado curioso é que em meio a tudo isso, muitas crianças japonesas ouvem pela primeira vez sobre o nascimento de Jesus Cristo, data comemorada no mundo todo com o Natal. E se encantam com a história. Menos pelos milagres realizados ou pela própria divindade de Cristo e mais por um detalhe que passa despercebido para a maioria dos cristãos: a manjedoura em que Jesus nasceu. Como se sabe, a maioria das crianças pequenas do arquipélago costuma dormir no futon ao lado dos pais, sendo que algumas delas jamais tiveram contato com um berço.
E assim, pouco a pouco, os japoneses vão criando sua própria maneira de comemorar o Natal, uma data que, se ainda não tem nada de sagrado para eles – menos de 2% da população do país é cristã –, ao menos já se popularizou como uma época de lembrar de boas ações e bons momentos, além de reunir amigos, familiares e amores para um dia de confraternização e alegria. Em suma, apesar das falhas na tradução e dos mal-entendidos pelo caminho, não há dúvidas de que o espírito natalino e a essência da data foram preservados.
Apesar de não comemorar o dia 25 de dezembro, que, aliás, nem é feriado, vários pontos do Japão entram em clima de Natal e criam enfeites tão bonitos e pomposos quanto os dos países ocidentais.
O Grand Prince Hotel Akasaka, em Tóquio, iluminado com uma gigantesca árvore multicolorida.
Árvore de 27m de altura é iluminada por 100 mil lâmpadas, em complexo de diversão em Shin Umeda, Osaka.
“Santa Helper”, vestida de Mamãe Noel, abre a vitrine para a moça pegar seu presente durante um evento em que pessoas desconhecidas deixavam um presente e escolhiam outro para si, em Fukuoka.
Árvores iluminadas próximas ao Roppongi Hills, um dos locais de compras mais elegantes de Tóquio.
Viram não é só comercial também é romântico.
------------------->Yo-chan
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