Final Fantasy XIII

 Quando eu era jovem e cheio de esperanças, o lançamento de um novo Final Fantasy era um evento.

As revistas especializadas publicavam artigos e mais artigos com toda informação que podiam sobre o game novo, fotos, ilustrações de personagens e tudo mais que nos fizesse gastar nosso suado dinheirinho em tais publicações.

Hoje sou velho e amargo, mas o lançamento de um novo Final Fantasy ainda é um evento e as publicações existentes (e os sites de games) dedicam muitos artigos a este acontecimento.

Sejamos francos, Final Fantasy merece todo o barulho que é feito em seu nome. Vamos parar por um segundo, analisar o número que está ao lado do nome do jogo e perceberemos que é absurdo que uma série tenha durado tanto tempo no nosso mercado.

Breath of Fire só durou quatro jogos (Dragon Quarter não existiu, foi apenas um sonho ruim) Suikoden durou cinco e só tivemos DOIS games da série Lunar.

Mas temos TREZE Final Fantasy, o que prova o tamanho dos colhões da Square Enix.

Pois é.

Mas seria o 13º game da série um trunfo, ou ele justifica a crença dos supersticiosos de que nada de bom pode vir ligado a este número?

É o que vamos descobrir.
A história se passa no planeta Pulse, que é separado em duas “camadas” bastante distintas: Cocoon, um continente flutuante criado e mantido por uma divindade conhecida como fal’Cie, e as inóspitas terras que existem na superfície do planeta.

Uma guerra aconteceu entre os povos que vivem no continente flutuante e na superfície do planeta e graças as inovações tecnológicas disponibilizadas pelo fal’Cie, a população de Cocoon emergiu vitoriosa, mas permaneceu sempre assustada com a possibilidade de um novo ataque. Assim sendo, todo e quaisquer cidadão de Cocoon que for suspeito de manter contato com os habitantes de Pulse, serão exilados para a superfície do planeta.

O jogo começa durante uma operação de exílio, onde o grupo rebelde N.O.R.A, liderado por Snow Villiers, se opõe a milícia local e tenta salvar os inocentes do exílio. Ao mesmo tempo, a ex-militar Lightning, acompanhada de Sazh Katzroy, se infiltra disfarçada na operação para localizar sua irmã Serah, que está sob posse de uma das divindades fal’Cie do continente.

Eventualmente, o grupo encontra Serah e destrói o fal’Cie que a mantinha prisioneira, mas não sem antes todos serem marcados pela criatura e transformados em l’Cie.

L’Cie são indivíduos escolhidos pelas divindades para desempenharem uma grande missão. Eles não recebem detalhes do que deve ser feito, apenas algumas visões, e precisam descobrir porque foram escolhidos e qual sua tarefa. Se não conseguirem cumprir com ela em um tempo determinado, se transformarão em monstros sem mente.

No entanto, o destino de quem cumpre uma missão pode ser algo muito pior do que a morte. Resta aos nossos heróis descobrir qual sua missão, cumpri-la e esperar o melhor após isso.

Não vou mentir, a história do jogo é muito complicada, o game joga os personagens na ação logo de cara e demora pra começar a explicar o que está acontecendo. O grosso da história, o passado dos personagens, suas motivações e tudo mais, nos são mostrados via flashback e aos poucos temos de montar um quebra cabeça com toda a informação que nos é mostrada.

Lá pro meio do jogo, todas as peças se encaixam e a história faz sentido perfeitamente. Não é o ideal, mas também não é ruim como em Kingdom Hearts II, cujo enredo só faz (pouco) sentido nas suas duas horas finais. Final Fantasy XIII é um daqueles jogos cuja história é melhor aproveitada em uma segunda jogada. Se isso é uma vantagem ou não, vai da opinião cada um.

Há também inúmeras referências a jogos passados da franquia. Só para citar, em uma cena uma menininha carrega um boneco de pelúcia de Carbunckle, uma Summon que fez parte de vários jogos da série. Fãs de longa data que se orgulhem de seus dons de cata-piolho terão um prato cheio aqui.

O elenco de personagens é muito bom, não é variado como o de outros games da série, mas desempenha bem seu papel.

Lightning é a heroína estóica e rígida, que aos poucos muda seu jeito de agir e se torna uma pessoa melhor e mais confiável, Snow é o típico cara bem intencionado que faz o melhor que pode, mesmo não tendo a resposta para todos os problemas, Vanille é a garota alegre e saltitante que tem segredos que nem imaginamos, Sazh atua como uma figura paterna para os demais personagens, e por aí vai.

O elenco segue a temática japonesa de trazer personagens imperfeitos e com seus próprios conflitos, que aos poucos superam seus demônios pessoais e se aproximam do ideal de um herói. Não é uma idéia nova, mas funciona bem até hoje, é fácil reconhecermos falhas nossas nestes personagens e nos apegarmos a eles quando as superam.

Eu comecei o jogo odiando Vanille, mas algumas horas depois, passei a gostar muito dela. Se isso não mostra a eficácia deste tipo de narrativa, não sei o que mais pode fazê-lo.

Os gráficos são belíssimos, os personagens são extremamente bem construídos e beiram o fotorrealismo. Mesmo sendo um pouco estilizados (mais por suas roupas e maneirismos, diga-se de passagem), eles chegam a ser mais realistas do que o que vemos em jogos como Gears of War.

Antes que os fanboys de GoW comecem a caçar minha cabeça (o que vai acontecer, cedo ou tarde), vamos ser sinceros, é mais fácil encontrar uma japonesinha parecida com a Vanille do que um sujeito que se assemelhe ao Marcus Fenix.

Pelo amor de Donnie Brasco, Marcus Fenix parece uma Action Figure esculpida em granito. O único ser humano que se assemelha a ele é o Batista da WWE... que também parece uma Action Figure.

Mas estou divagando.

Não apenas os modelos de personagens são belos, mas sua animação é muito boa, com um frame rate constante e muito bem feito. As animações, sejam de luta ou não, são muito bem trabalhadas. De fato, a movimentação labial casa com o que os personagens dizem. Quem jogou Final Fantasy X ou XII, pode perceber que a animação dos personagens não bate com os diálogos em Inglês, porque foram feitas tendo os diálogos em japonês como base.

Pode parecer um detalhe bobo, mas o fato da equipe de produção ter se preocupado em fazer uma movimentação labial específica para a dublagem em inglês, demonstra a preocupação que tiveram com o visual deste game.

Os cenários também são excelentes. A fauna e a flora do mundo de Pulse são total e completamente alienígenas e não se assemelham a nada que tenhamos em nosso planetinha. Mesmo as criaturas clássicas da franquia, como o Behemoth, receberam um banho de loja que se mostra como uma lufada de ar fresco para a série.

Há também um bocado de CG’s, mas todos sabemos que neste departamento ninguém bate a Square-Enix, então não vou me alongar neste tópico.

A trilha sonora é muito boa. Existem temas tocados no piano, temas cantados, guitarras elétricas e até mesmo um tema tocado com gaita de bolso. A música de Final Fantasy XIII é impecável como sempre e mais do que justifica a compra da trilha sonora do game.

Os efeitos sonoros também são excelentes. Tiros soam como tiros, explosões soam como explosões, cada monstro possui um urro (ou guincho, ou chiado) característico e os veículos tem sons diferentes para cada motor.

Para finalizar, a dublagem é estupenda. Todas as vozes foram muito bem escolhidas e combinam perfeitamente com os personagens.

O roteiro foi bem escrito e bem traduzido também, o que valoriza ainda mais o trabalho dos atores. Nenhum membro do elenco soa como se seu dublador quisesse acabar logo o trabalho, receber e ir pra casa, todas as falas soam com a emoção necessária para a cena.

Percorremos um longo caminho desde Resident Evil e seus diálogos idiotas como “Você quase virou um sanduiche de Jill!”

Pra falar da jogabilidade, começarei destacando um defeito do jogo antes de enaltecer suas habilidades: Final Fantasy XIII é extremamente linear.

Quando digo linear, não é como Final Fantasy X, onde o grupo ia de uma cidade a outra, passava por uma planície, podia voltar aos lugares que visitou e por aí vai. Me refiro a uma linha reta MESMO, onde só é possível seguir em frente.

Normalmente, você guia dois personagens durante um trecho do jogo, avança com eles por um caminho definido, mata os monstros que encontra, chega a um determinado ponto e encerra este trecho. Então, a história muda seu foco para outros dois personagens e devemos guiá-los por uma outra linha reta até um ponto determinado... e assim vai.

O jogo segue desta forma irritante do ínicio até o fim. Após umas 3o horas, um vasto mapa se abre e é possível explorá-lo, mas avançar pela história ainda consiste de prosseguir por uma linha reta.

Esta linearidade é um problema enorme, não há como negar, após algumas horas correndo em linha reta, é impossível não ficar entediado e se sentir pouco estimulado a continuar jogando. De fato, arrisco dizer que muita gente vai desistir quando chegar a heróica marca de 10 horas.

Felizmente, a boa história, o bom elenco e a curiosidade em saber o que acontecerá em seguida são bastante para manter o interesse ao longo da aventura. Não será o suficiente para 100% daqueles que experimentarem este jogo, mas com certeza, fará valer a pena para muitos deles.

E não é como se não houvessem outros atrativos no game. Comecemos pelo combate.

Final Fantasy XIII introduz o sistema de Paradigms, que é como uma versão moderna do Job System (o sistema de classes de personagem criado em Final Fantasy III) conhecido da série.

Durante as lutas, os personagens podem assumir posturas de combate que definirão suas ações. São elas: Commando (focado em ataques físicos), Ravager (focado em magias de ataque), Medic (focado em magias de cura), Sentinel (focado em proteger os aliados de ataques inimigos), Synergist (focado em magias de suporte) e Saboteur (focado em magias que diminuem a capacidade dos inimigos).

Cada classe utiliza apenas sua habilidade específica durante o combate. O Medic por exemplo, só utilizará magias de cura em seus aliados. Desta forma, é preciso escolher sabiamente quais posturas os membros do grupo usarão durante a luta, um grupo com três Commandos dificilmente vai durar muito tempo, mas um grupo com um Commando, um Ravager e um Medic é uma ameaça muito mais séria.
Não é possível trocar o Paradigm dos personagens individualmente durante a luta, mas é possível mudar os do grupo inteiro quantas vezes for necessário. O jogador precisa montar variações de Paradigms antes das batalhas e utilizá-las como for melhor ao longo do combate.

O jogo também possui a opção de combate automático, que é muito mais refinado e mais útil do que no passado. Originalmente, ele fará com que seus personagens utilizem suas habilidades mais eficientes contra o inimigo, mas se a habilidade Libra (que detecta pontos fracos, bem como os fortes dos inimigos) for usada, o combate automático programará o grupo para usar poderes específicos, que melhor danifiquem o oponente, baseado em suas fraquezas.

As habilidades específicas de cada uma das classes são liberadas no Crystarium, o novo sistema de evolução do game, e que parece uma versão melhorada do sistema de Grids presente em Final Fantasy X.

Sempre que derrotar inimigos, receberá Crystogen Points, que devem ser utilizados no Crystarium para se liberar habilidades, magias e melhores atributos. O bom deste sistema é que o jogador pode evoluir seus personagens quando bem entender e da forma que achar melhor, o que lhe dá a liberdade de decidir o que é mais importante para os personagens no momento.

Outra boa notícia, é que personagens que não estejam em seu grupo ativo também ganham Crystogen Points e podem ser evoluídos juntos dos demais membros da equipe. Isso impede horas de Grinding para evoluir aquele sujeito que você odeia e nunca colocou no grupo, mas cujo uso é praticamente obrigatório perto do final da história (o que quase sempre acontece em um Jrpg).

Também é possível evoluir as armas do grupo com itens deixados pelos monstros após serem derrotados. Se o jogador preferir, ele pode simplesmente comprar armas novas, mas evoluir as que já possui é muitas vezes uma opção melhor.

Nossas queridas Summons também voltam neste jogo, batizadas de Eidolons (como em Final Fantasy X) e podem ajudá-lo de duas formas distintas, lutando ao seu lado em uma batalha comum, ou transformando-se em um veículo (ou criatura) que seus personagens podem pilotar (ou cavalgar) para desferir golpes extremamente poderosos.

As Summons evoluíram e tornaram-se Transformers... em algum lugar do universo, lágrimas de felicidade surgem nos olhos de Optimus Prime.

Finalmente, existem as Missions, onde o jogador precisa derrotar monstros canelonicamente poderosos e se tiver êxito, ganhará uma quantidade imbecil de Crystogen Points e itens para evoluir suas armas.

Como todo Final Fantasy, este game não tem receio de acabar com sua vida social, mas quem precisa disso quando se tem Bahamut, não é verdade?


Gostaria de fazer um comentário mais pessoal antes de dar a conclusão. Tenho visto muitas pessoas compararem Final Fantasy XIII a Fallout 3 e Mass Effect, enaltecendo o quanto estes são jogos melhores e bla bla bla.

Pois bem, tal comparação é pura e simplesmente burra.

Mass Effect e Fallout 3 são Rpg’s Americanos, enquanto Final Fantasy XIII é um Jrpg. Ambos são Rpg’s, mas são diferentes como o dia e a noite e uma comparação entre estes jogos a fim de determinar qual é o melhor é uma bobagem sem tamanho.

É o mesmo que comparar Mozart com Ozzy Osbourne. Ambos fizeram música, mas em estilos tão diferentes que só um idiota faria uma comparação.

Dito isso, admito que o mercado de Jrpg's hoje em dia anda bem mais morno do que o que tinhamos na geração 16 Bits. Ainda existem bons jogos neste estilo, mas eles não conseguem resgatar a glória de outrora do gênero.

Final Fantasy XIII é um Jrpg imperfeito em diversos aspectos e que não chega nem perto da gloria que a série um dia teve, mas em um mercado com opções cada vez mais raras em seu estilo, ele se torna um game quase obrigatório para fãs do estilo.

Mesmo que muitas de suas arestas precisem ser aparadas.

-------------->Yo-chan

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